sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

muitos anos de vida

Eu tive uma doença grave. Fiquei boa, mas não posso ficar totalmente segura que estou curada. Muita pessoas me perguntam o que mudou, o que eu aprendi com essa experiência, se eu vejo a vida com outros olhos. A impressão que tenho é que alguns pensam que quem flertou com a morte torna-se um ser sem defeitos, ou seja, que tudo passe a ser maravilhoso e sem defeitos! Nada disso, continuo a mesma! Se eu aprendi alguma coisa, preferiria continuar na ignorância.
Mas outro dia estava pensando que passei a a nutrir bons sentimentos a coisas que antes tinha horror. Tipo: pelanca em baixo do braço, osteoporose, geriatras, cabelo do Walmor Chagas, bunda mole sem volta, dentadura, chamar alguém com carinho de "meu velho". etc.
É... algo mudou, comecei a gostar dessas coisas, se é que vcs me entendem...
FELIZ ANO NOVO A TODOS! Obrigada, o blog já teve quase 70.000 acessos, pode?

sábado, 11 de dezembro de 2010

É dAs carecas que Eles gostam mais

Estava lendo o depoimento de uma americana, Sharon Blynn de 35 anos que teve câncer de ovário (finalmente! só rola de mama) e sofreu muito ao perder seus cabelos longos. Só que depois que ela ficou careca, ela entrou numas de não usar peruca e assumiu total. É dela essa frase que eu adorei : "Uma mulher não é a soma das diferentes partes do próprio corpo. Com ou sem cabelos, com ou sem seios e órgãos reprodutores, ela é espiritualmente completa e perfeita."

Pensamento perfeito e verdadeiro, claro. Mas como grande pensadora que sou, já me imaginei na seguinte situação :
Na academia tentando me explicar com a loura-gostosa-queimada-de-praia que no momento empurra 180 quilos no leg-press.
- Ai amiga,pois é... eu tô careca, magrela, branca e fraca, mas minha espiritualidade tá super completa e perfeita. aceita uma barrinha de cereal?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

remédio

alguém sabe como conseguir o remédio SORAFENIBE (nexavar)? este remédio é caríssimo e é para uma menina de SC que está precisando muito.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

coração chique, muito chique

Em outubro publiquei um post onde falava dos meus medos (a coitadinha) e reclamei dos robes dos hospitais que são horrorosos e brincando, disse que Isabela Capeto deveria desenhar uns mais bonitos. Nuuuuunca poderia imaginar que ...

Recebi uma sacola da Isabela Capeto em casa e pensei... - Quem me mandou uma roupa da Isabela? Não é meu aniversário... Oba! - Abri a sacola e lá estava uma cartão com palavras lindíssimas da própria. Dentro da sacola tinha um LINDO ROBE QUE ELA FEZ PRA MIM !!!! LINNNNDO !!! No cartão ela disse que nos conhecemos num clip em 1985! Ela era assistente de figurino!

Que pessoa é essa? Seu coração é tão colorido e florido como suas criações.
É muito bom saber que existem pessoas que no auge do sucesso são capazes de tamanha gentileza. Não poderei retribuir para ela, mas talvez para outras pessoas, sei lá... só para fazer um mundo melhor,como ela fez com o meu. Muito obrigada, Isabela.
Bem pessoal, sorry, tenho um robe da Isabela Capeto feito só pra mim.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

cartão felicidade

Jantar no Gero : R$ 300,00
Passagem para Nova York na executiva : R$ 7.000,00
Tomografia computadorizada com resultado lindo: NãO TEM PREÇO!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

alguém consegue?

Eu adoro uva. Uva tem um negócio que eu esqueci o nome que é bom para tudo: não ter mais câncer, ficar jovem para sempre, proteger o coração, uma beleza! Só que tem muito agrotóxico! Eu compro muitos orgânicos, só que além de custar uma FORTUNA não tem tudo! Agrotóxico dá câncer! Aliás tudo dá cãncer! Tenho lido matérias sobre os perigos de: telefones celulares, forno de microondas, comida que entra em contato com plástico (água mineral inclusive), todas frutas, legumes e verduras não-orgânicas, desodorantes, cremes e shampoos (isso mesmo), leite, carne frango, todos alimentos industrializados, especialmente aqueles que possuem glutamato, escova progressiva e respirar na rua, ou seja, deixe para respirar somente na sua próxima visita à Floresta Amazônica.
Não consigo viver só de arroz integral e linhaça! Preciso de um chocolate! Ao leite! Mas não pode!
Tenho que jogar meu celular fora, me mudar pro Pantanal de preferência casada com Marcos Palmeira pra ganhar os orgânicos que ele planta. Alguém tem o telefone dele? O fixo. Urgente.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

irmã metralha

Outro dia estava tentando dar um jeito na minha peruca, quando minha irmã disse:
- Você fica melhor de lenço, mais charmosa.
- Ah, não aguento mais...
- Mas vc levou aquela baita cantada, de lenço.
- Tá doida? Quando?
Segurem-se : ela estava se referindo a um mendigo, daqueles bem podrões que disse pra mim:
- Nossa, essa é a cigana mais linda que eu já vi!
Como? Cigana? Mendigo podrão?
Você percebe que negócio tá difícil pra você quando sua própria irmã, sangue do seu sangue tá achando isso bom.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

a coitadinha

Tem coisa pior do que se sentir a coitadinha? Eu acho que sim, querer se sentir "a incrível", "a corajosa" o tempo todo. Tenho que confessar: sinto-me "a coitadinha" muitas vezes sabia? Não queria me sentir assim, mas sinto. Sabe quando?
- Quando descubro que fui indicada por uma pessoa importante para um trabalho super bacana e logo em seguida barrada por estar em tratamento, sendo que só começa em janeiro e meu tratamento acaba semana que vem. Em janeiro, tudo indica que estarei tinindo! Tudo que preciso é um trabalho legal! Tô viva! Que coisa, né?.
- Quando estou naquela sala de exame gelada com aquele sapatinho medonho, morta de medo e o que é pior: o robe! Ele me dá medo, será que não dá pra chamar a Isabela Capeto pra fazer um robe mais alegrinho? Coitadinha de quem tem que vestir aquilo no frio e com medo, careca ainda por cima!
- Quando vejo as mudanças no meu corpo e meus cateteres, também.
- Quando me sinto abandonada também.
Mas como no fundo eu não sou coitadinha coisa nenhuma, isso tudo PASSA! E quando passar, sei que serei capaz de tudo que era antes, ou quem sabe muito mais.
Ah! antes que eu me esqueça, coitadinha é a PQP.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

isto é

Finalmente dei uma entrevista sobre o câncer, o tratamento e minhas opiniões sobre tudo que acontece quando se vive esse negócio. Depois de muito pensar, achei que seria legal e foi. Revista ISTO É que está nas bancas. Disponível também no site da revista.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

a desencanada

Em maio eu escrevi um post sobre minhas queridas amigas. Observei seus comportamentos e dei um apelido para cada uma. A primeira foi "desencanada". aquela menos impressionada, sempre disposta a me acompanhar nos exames importantes e sempre com total certeza que tudo iria dar certo. Ninguém sabe, só eu mesma o quanto ela foi e é importante nesta fase tão difícil da minha vida. Muito bom ouvir suas histórias amorosas e ganhar seus presentes.
Só que por uma ironia louca do destino ela também está doente. Quer dizer, não está mais, já operou e está fazendo quimio. E eu ... agora do lado de cá e do lado de lá, totalmente tonta sem saber direito o que fazer e querendo ser pelo menos um pouquinho maravilhosa como ela foi comigo. Mas ... é só esperar um pouco, daqui a um tempo, vamos posar para uma foto bem linda com o cabelo bem comprido!

manual prático da mulher careca moderna II

Sabe que eu mandei um e-mail para o programa Super bonita sugerindo dicas para quem está passando por quimioterapia, mas não me deram bola.. Tudo bem, faço eu a superbonita-careca.
- Tá muito magra? Eu também estava, agora estou bem melhor, mas descobri algumas coisinhas para disfarçar : manga comprida! Se estiver calor use algo bem fininho mas que tenha manga, os cotovelos de fora dão um aspécto mais magro ainda. As roupas mais larguinhas também disfarçam. Para encher a calça jeans, existe um negócio que eu chamo de "bundex", nunca tive coragem de usar na vida real pois acho propaganda enganosa, mas na peça usava direto. Vende em loja de lingerie. Mas não vá comprar tamanho G, aquela bunda só fica bonita na Juliana Paes.
- Eu me enchi dos lenços, agora tô na fase da peruca, mas quem está usando lenço e percebeu que com a chegada do calor a cabeça, bem... fica um pouco suadinha, descobri um ótimo desodorante de careca: lavanda Johnson's!
- Uma maquiadora da rede Globo me ensinou um truque genial: para completar a sobrancelha (a minha não caiu toda, mas está toda falhada) : lápis faber-castell para desenho 6B. Fica simplesmente perfeito, muito melhor do que o lápis marrom que eu já havia recomendado aqui.
- No mais... cortisona dá um bronzeado, né? Parece que a gente passou um fim-de-semana em Angra! Então tá...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A remissão e o fantasminha

Quando se tem um câncer tratável, só existe um desejo: a remissão. Para quem não sabe, remissão é assim: os exames apontam que você está boa, nem um sinal da doença, mas não dá pra sair correndo dizendo que se está curada.Primeiro, tem que continuar o tratamento, segundo, tem que fazer um acompanhamento por 5 anos e terceiro não pode nem tirar o catéter tão cedo porque... bem ...todo mundo sabe, não quero nem escrever. Nas semanas antecedentes do meu exame, comecei a ter certeza que minha remissão estava próxima. Isso é muito bom, mas junto com isso vem um fantasma: o resultado dos próximos exames. Fiquei apavorada , como conviver com esse fantasma? Será que eu terei paz?

Maria Clara Machado é uma referência muito importante para quem faz teatro, especialmente aqui no Rio onde está "O Tablado", escola que frequentei quando Clara ainda era viva. Andava por lá, mas nunca tive coragem de falar com ela, tamanha minha admiração. Uma das mais belas peças de teatro para crianças é sem dúvida "Pluft, o fantasminha", a história do fantasminha que tem medo de gente. Só um gênio para ter essa sensibilidade.

Então eu resolvi que minha vida vai se assim: já que eu tenho que conviver com um fastasma, eu quero que ele seja o Pluft. Quero porque quero. Eu tô muito parecida com ele : "Que medo, que coragem! Nem sei!"

domingo, 22 de agosto de 2010

cura

Não vejo a hora de usar um lindo lenço ... no pescoço!

sábado, 21 de agosto de 2010

loca, loca, dance!

Meu tratamento começou com uma cirurgia para colocação de um catéter que é um aparelho que se coloca em baixo da pele e que leva o remédio direto para corrente sangüínea sem precisar furar a veia toda semana. Estava no quarto do hospital evidentemente cheia de medo e tristeza. Dr. Souza Leite disse para minha irmã que o anestesista já estava chegando e que me daria um remedinho que me deixaria sem medo. Remedinho? Ele me deu a felicidade em forma de comprimido!
Bem, ele chegou, me deu um comprimido,disse-me que não seria anestesia geral, fez aquelas perguntas e dali a pouco ...
- Lilia, olha que amor meu anestesista, não é fofo? - sim,,eu chamei um sério profissional de saúde de " fofo ".
Dali a pouco...
- Adorei você! Você é um amor!
E pegava na mão dele..
- Nossa, eu confio em você! Lilia, olha que amor!
E não parava de repetir a mesma coisa. Imagina a cena! Minha irmã me contou que ele ficou vermelho, sem graça, claro! Aquela louca fazendo declaração para um senhor que nunca tinha visto antes.
Claro que não foi uma cantada, talvez inconscientemente eu estivesse agradecendo por ele ter resgatado minha alegria.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

tango, bolero e tcha tcha tcha

Para quem pergunta sobre a minha peça: esta semana farei todas sessões, semana que vem, não.
Teatro Clara Nunes, quin/sex/sab 21.30h, dom. 20h

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Hipócrates e seus discípulos

Nunca tive dúvidas quanto à minha profissão. sempre quis ser atriz, só não sabia que isso era uma profissão, acho que, como minha família não tinha nenhuma ligação com as artes, achava isso uma coisa muito distante e de mim. Quando aos 17 anos dona Bárbara Heliodora, que fazia parte da banca julgadora da faculdade de artes cênicas, me perguntou como eu queria fazer faculdade de teatro se não sabia nada, eu respondi:
- Ué.. quero entrar justamente para aprender!
Bingo! Entrei. Até hoje nunca tive uma crítica desfavorável dela. Deus é pai.
Nessa época eu só pensava em como conseguir um trabalhinho, em como saber o nome dos autores, das peças, conhecer os teatros e na minha paixão platônica pelo professor de filosofia.
Então eu fico pensando o que leva um jovem a escolher medicina. Na idade em que eu estava me vestido de dama, de bailarina, de abelha, eles estavam dissecando cadáveres! Como pode? Não é incrível? Não são seres especiais? Pelos meus cálculos, no fim dos anos 70/início dos 80, meu médico estava decidindo fazer oncologia! Numa época em que o prognóstico para câncer era muito pior do que é hoje. Meu cirurgião tem 45 anos de profissão. Já pensou como era há 45 anos?
Sei lá... acho que são seres superiores...
Meu muito obrigada.

desculpas

A revista Quem fez uma matéria sobre o meu blog, com um problema : o título não é de minha autoria! Foi reproduzido daqui mas é da Maria Antônia (eu creditei, a revista, não). Coisa chata! Maria Antônia, peço desculpas em nome da revista.
Quem quiser conhecer o humor de Maria Antônia, dá uma olhada no original, eu adoro! etonamoda.blogspot.com

sexta-feira, 30 de julho de 2010

manual prático da mulher careca moderna

Aqui no Brasil ninguém teve a brilhante idéia de ajudar a melhorar o look das mulheres em tratamento de quimioterapia. Quando estamos bem, continuamos vaidosas. Como diz Maria Antonia, de lenço, careca ou de boné, continuamos mulheres.

- Careca - não me dei bem com perucas nem próteses, uso lenço mesmo, os melhores são os finos, longos com aquele rabão atrás, eu jogo pra trás e finjo que é cabelo, ainda disfarça o catéter se vc estiver de regata.
- Meus cílios caíram há pouco tempo, buuuuááá... Eu tinha cada cilião lindo! Dane-se, já me acostumei, mas para disfarçar, pinte bem na raiz com lápis preto, se quiser pode esfumaçar, é impressionante como ninguém nota. Disfarça total o look-peixe.
- Minhas sobrancelhas não caíram totalmente, então cubro as falhas com lápis marrom, fica ótimo, mas tem que ser com marrom, o preto fica medonho.
- Corretivo, sempre. Baton, esquece essa moda do nude, ficamos mais abatidas ainda. blush eu gosto de passar tipo fui à praia, tira a cara de doente.
- Pronto, as pessoas vão dizer que vc tá ótima! Tudo faaaalso! Oba!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

pensamento

Nesta fase da minha vida eu ainda não descobri se eu estou conhecendo as pessoas como elas são verdadeiramente ou simplesmente apenas o que elas suportam.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

câncer - e agora?

Este texto destina-se às pessoas que acabaram de descobrir que estão com câncer, se não é o seu caso (toc toc toc), leia o post aí em baixo que é mais engraçadinho ou repasse este para alguém que está com esse problema.
Tudo que escrevo aqui é baseado na minha experiência e na minha observação com outras pessoas, é claro que cada ser humano é único,cada câncer é único, além do mais ninguém me pediu conselho nenhum, mas como sou enxerida aí vai ...
- a primeira coisa que acontece quando chega o diagnóstico é: todos a sua volta dizem : Calma! Pois então, DESOBEDEÇA! Não tenha calma, não dá para manter a calma!
Nessa primeira fase, a última coisa que se pode ter é calma! pensamento positivo também é impossível, depois ele vem com toda força, mas no começo não dá! Portanto, chore, xingue, quebre bibelôs, tenha raiva do mundo, vc tem todo direito. Acho difícil existir um pensamento pior do que o medo de deixar a criança mais amada órfa, nada me perturbou mais do que isso, é uma dor nas entranhas que não dá para relatar. ( por favor jornalistas, peço que não reproduzam em nenhum meio de comunicação essas linhas que são destinadas apenas a quem está passando por isso, obrigada)
- Vc tem todo direito de vivenciar um período de luto. Mas... ele tem que passar. Não tem jeito, vc tem tem que enfrentar isso e pronto. É você, você, você e você. Vá se arrastando, mas vá. Tomografia, consultas,quimioterapia, exames gelados,cirurgia, vá. Vá chorando se precisar, com medo, mas vá. Enfrentar tudo isso prá mim foi a única maneira de voltar a ter bons pensamentos e isso é um alívio.
- Aceite e peça ajuda. Você vai ver, as pessoas são solidárias e vc deve se aproveitar disso, é bom pra vc e para elas.
- Se você puder procure bons médicos, só de olhar pra cara do meu ou ouvir a voz dele no telefone, já me tranquiliza, acho que vou descobrir onde ele mora e alugar um ap lá. Eu sei onde é o cabelereiro da esposa dele, vou lá ficar amiga dela! Sério, acho que as melhores indicações vêm de outros médicos, porque eles sabem mesmo e nossos amigos conhecem o melhor médico do mundo e isso acaba por nos enlouquecer.
- Tenha planos para depois do tratamento, o meu é ir Disney com minha filha, já prometi e vou dar um jeito. Faça um, o que vc puder.
- Não leve em consideração todas receitas milagrosas que vão te oferecer, eu falo para meu médico e pronto. Ele que manda, senão... loucura! mas lembre-se, as pessoas têm a melhor das intenções, paciência, agradeça.
- Se vc puder faça análise, acho fundamental.
- Acupuntura também.
- Ginástica ( se liberada) também.
- Boa alimentação também.
- Chorar também.
- Quando eu não tenho enjôo, fadiga nem dor e minha filha está na escola eu cismo que tenho que aproveitar a vida. Mas o que é aproveitar a vida, né? Aí eu vou andar no Jardim Botânico ou vou ao cinema, às vezes sozinha mesmo, afinal meus amigos nâo têm que aproveitar a vida segunda à tarde.
- Tire férias do câncer. Quando estou bem, eu escondo todos remédios no armário.
- Procure fazer amizade com alguém da mesma faixa etária sua e que também esteja doente, é muito bom, a quimioterapia é um bom lugar para isso.
- Use sempre seu cartão-câncer(procure esse post).
- Nada de gloogle!É péssimo! A única vez que fiz isso, só trouxe sofrimento que eu não precisava. Ouça o seu médico. Nada de percentagem. Vc não sabe de que lado está. Só serve para assustar. Méééédico!
- Religião é muito bom nessas horas, eu , como não tenho me apego na dos outros, aceito tudo e me faz bem.
O que eu me lembro agora é isso mas vou atualizar assim que me lembrar de outra coisa, ok?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

taxistas

Aconteceu duas vezes. Até os motoristas sabem que eu tô doente.
- Moço, vamos para Siqueira Campos depois da Toneleiro, por favor.
- No centro médico?
- É, mãe Dinah.
Outro dia,
- Moço, vamos para Sorocaba, depois da Mena Barreto, por favor.
- No prédio dos médicos?
- É, polvo da copa.
Só que hoje foi diferente. Entrei no táxi:
- Vamos pra Gávea por favor.
- A senhora tá parece aquela artista. Elas andam assim de lenço e óculos para despistar os paparazzi.
- Ah...
Depois me contou uma história fascinante de como um torresminho arrancou sua obturação. Chegamos.
- Obrigado. Tchau, hein,dona Zezé Polessa!
- Tchau, Gianecchini.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

maqueiros

Tem uma classe nos hospitais que eu nem sabia que tinha esse nome e que é muito divertida: os maqueiros. Os que conheci estavam sempre de bom humor e me tratavam com a maior gentileza.
A recuperação da minha primeira cirurgia foi bem rápida. No segundo dia, já estava voltando para casa e como é regra do hospital tinha que sair de cadeira de rodas. Pois bem, o maqueiro resolveu fazer um rally comigo. Saiu correndo, desviando de tudo e fazendo barulho de carro.
- E aí, gostou?
- Gostei - disse sorrindo. Foi bom dar um sorriso, o único, fazia dois dias que eu sabia que estava doente.

Na segunda operação, fiquei 9 dias no hospital e tinha que descer de cadeira de rodas para fazer exames. Alexandre muito íntimo foi me contando:
- Pô, dona Marcia, hoje é meu último dia aqui, vou para o hospital do Andaraí.
- Sei... Mas vai ser melhor pra vc?
- Acho que sim, lá eu vou ser técnico, passei no concurso.
- Parabéns
Chegamos no exame. E eu fraquinha...
- Como é meu último dia, faço questão de levar a senhora de volta para o quarto. Vou pedir para enfermeira me chamar. Rapidinho.
- Ok, Alexandre, ok.
Acabou o exame e cadê? Fiquei tão cansada de esperar que acabei deitando numa maca que tava dando sopa no corredor. Resultado: Alexandre me pediu mil desculpas e me levou deitadinha na maca.

Na hora que estava finalmente indo embora do hospital, resolvi passar um batonzinho e um blush para não assustar minha filha quando chegasse em casa. Quando o maqueiro chegou, (esse eu não lembro o nome) eu estava arrumando meu lenço.
- A senhora tá bonita com esse lenço dona Marcia.
- Ah.. Obrigada, acho que vou melhorar.
- Olha, a senhora tem ouvir a opinião masculina, eu tô lhe dizendo, tá bonita assim. Não ouve a opinião de mulher não, pode ter inveja.
Juro, aconteceu assim. Nada como sair do hospital com um maqueiro-bofe dizendo que vc tá bonita e que alguém ainda pode ter inveja de vc. Adoro maqueiros.

domingo, 20 de junho de 2010

3 x 0

Demorei mas voltei. Minha saúde nesta última semana não permitiu que eu escrevesse.
Acabei de ver o jogo e fiquei pensando que bastou eu me sentir melhor que nem pensava mais em câncer, só estava interessada nos gols do Brasil. O Kaká é gato, mas a Suzana Werner tá bem servida, né gente? Outra coisa que eu estava reparando é na torcida. As pessoas perdem a noção! Não existe ser humano que fique bem com aquela peruca tóin oin oin verde e amarela! Prefiro torcer careca!
Mas eu não ia falar nada disso. Eu quero contar que andava pensando que qualquer um dos meus amigos está autorizado a usar de violência física comigo se quando eu ficar boa me ouvir reclamar que:
- meu cabelo não tá bom
- o empadão tá salgado
- não tenho roupa
- fulaninho não me ligou
- sicraninho não me chamou para aquele papel
- tá engarrafado
- tô com medo do avião cair (SEMPRE acho isso)
- essa meleca dessa peça não tem público
Só que eu quero tanto ficar boa, mas tão boa que eu quero "esquecer" tudo isso e voltar a reclamar que minha unha quebrou. Não é melhor?
ps 1 - tô respondendo aos comentários
ps 2 - essa data aí em cima tá errada hoje é dia 28 de junho

sábado, 19 de junho de 2010

Superpop

Sempre fui exibida. Quando pequena adorava ser o centro das atenções, ficava no meio da sala imitando as chacretes. Como era péssima bailarina e o Chacrinha morreu, virei atriz. Sempre que dá ainda imito as chacretes através de algum personagem e às vezes gosto de ser o centro das atenções. Mas o palco sempre me satisfez, não topei posar nua e nunca me senti à vontade de falar da minha vida em entrevistas. Aliás, não gosto de entrevistas. Sempre que leio acho que fui burra, a foto poderia ter ficado melhor e sinto-me desconfortável quando o assunto é pessoal, exceto talvez quando tive minha filha que por acaso era o bebê mas bonito do mundo e achava que deveria dividir isso com os outros habitantes do planeta. Agora... vai me entender... inventei esse blog! Tô tentando dividir minha experiência, mas preservando minha intimidade. Não se tõ conseguindo, acho que preciso me controlar, se não, daqui a pouco eu tõ numa mesa redonda com a Thammy Grechen no programa da Sônia Abrão.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

irritando marcia cabrita

Quando eu não estava com câncer também tinha a maior dificuldade de lidar com isso. Não sabia se ligava, se não ligava, não sabia o que deveria falar. Mas acho que tinha um comportamento sábio: não sabia o que falar? Calava minha boca!
Sinceramente, compreendo esse comportamento. Eu realmente acredito que ninguém magoe por mal, pelo contrário, é na intenção de ajudar, mas... tentarei reproduzir um diálogo que aconteceu entre mim e uma pessoa muito querida pouco antes da minha cirurgia:
- Oi querida, vc está ótima! Como vc está de saúde?
- Bem, acabei a primeira fase de quimioterapia e vou operar na semana que vem.
- Operar? Ah... Mas tem mesmo que operar?
Eu respondi:
- Tem, inclusive minha cura está na cirurgia!
O que eu deveria ter respondido:
- Não Pedro Bó, (entrego aqui minha idade), sabe querido, tô de bobeira semana que vem, então resolvi ficar com a barriga aberta durante 7 horas, depois traslado para CTI, ai, tô louca pra conhecer o CTI, um lugar tão famoso, dizem que os nativos te tratam com a maior atenção e depois, novamente traslado, sempre com 2 bofes maravilhosos te carregando, para 8 dias no quarto, mil injeções, dor, e o que é incrível, é melhor que spa, não comerei NADA durante toda minha estada.
Como eu não disse nada disso ele continuou:
- A cura não está na cirurgia não, tá na sua cabeça.
OOOOOOOOOOOIIIIII? Socoooooocorrroooo!!! Na minha cabeça? Eu confio mais no Dr. Celso!!!!!!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

uma gota de vaidade em um mar de problemas II

Caluniei o médico de São Paulo! No hospital, depois da segunda enfermeira dizer que eu estava com a barriga flácida, resolvi perguntar ao médico o que era isso. Não é possível a pessoa embregar tanto de uma hora para outra.
Nada disso, na linguagem de médico "barriga flácida" quer dizer que a barriga está sem gazes. Posso dizer até que o doutor paulista me elogiou. Ainda bem, eu tô doente mas não tô uma jaca mole.

meu momento Hebe

Meus amigos sabem que eu não sou nem um pouco Pollyana. Mas eu tenho que admitir que essa doença trouxe coisas boas pra mim:
- Passei a dar um valor muito mais amplo à vida
- Nunquinha imaginei que seria capaz de escrever coisas e muito menos que muitas pessoas se interessariam por elas.
- Vivia reclamando do meu cabelo e hoje acho que eu tenho o cabelo mais lindo do mundo, ah.. vai.. talvez Gisele me supere.
- Descobri que poucas pessoas tem amigos como os meus.
- Minha irmã, que nunca teve tempo pra fazer nada, arranjou 10 dias para ficar comigo no hospital e se fossem 20 ela arranjaria também.
- Poucas pessoas tem a chance de ter uma filha que aos 9 anos, da cabeça dela, mobiliza minhas amigas e minha empregada, faz uma festa surpresa com bolo, sanduiches,balões e convidados, tudo isso sem eu desconfiar de nada, com o dinheirinho da mesada, porque eu voltei do hospital.
- Descobri que a medrosa, a chorona, a apavorada pode ser muito corajosa.
Tô melhor que a Hebe.

domingo, 13 de junho de 2010

hebe

Ola! Voltei! Para quem se preocupa comigo, estou ótima e seguindo tratamento.
Tinha decidido voltar ao blog criticando a entrevista que Hebe Camargo deu à Veja. Quando li estava cheia de dores no hospital e não gostei. A-do-ro a Hebe, mas essa subvalorização da doença não me caiu bem. Parece que esse super otimismo e alegria de viver são a solução de todos os problemas. Não me parece justo com quem está sofrendo. Existem muitas pessoas que tem sim, muitos problemas com a quimioterapia(não é o meu caso), pessoas que "perdem a batalha" contra o câncer (detesto isso)e não acredito que tenha faltado a elas "alegria de viver". Claro que alegria e bom humor são importantes e sempre bem vindos, mas existe o inexplicável.
Agora fui reler a reportagem e... achei tão bacana uma senhora daquela idade encarar tudo dessa maneira que vou calar a boca. Faz de conta que eu não escrevi nada disso aí em cima.

domingo, 30 de maio de 2010

recreio

Ficarei por um tempo impossibilitada de postar.Assim que puder estarei de volta. Beijos!

uma gota de vaidade em um mar de problemas

Não leio laudos de exames, mando direto para o meu médico e ele me conta. Acho que minha fantasia aliada à minha ignorância podem ser pior do que a realidade. Antes não lia nem quando já sabia o resultado, agora já dou uma olhadinha. Numa dessas olhadinhas, descobri uma ficha do médico de São Paulo. Tinha lá todo o diagnóstico, difícil de ler e meus dados, entre eles um que me chamou atenção: abdomem: flácido. Como é que é? Eu me acabo na aula de abdominal, para ouvir isso de um médico renomado? Paulista abusado!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bunda

Quando eu penso que eu queria que a ciência descobrisse a cura da... celulite!

cartão-câncer

Logo no primeiro mês que soube que estava doente ganhei da ângela, um livro que recomendo a todos que estão doentes - "Câncer e agora?" de Kris Carr (ed. Globo). O nome é meio cafona mas livro é ótimo. Detesto livros sobre câncer, tem muito nome difícil, muita pesquisa, tudo tem percentagem, Ihhhh, me dá nos nervos aquilo. Esse não, é o relato de uma atriz americana de 25 anos que tem com um câncer que não tem tratamento. Ela muda seu estilo de vida e consegue estacionar o bicho. Só que ela é super engraçada e tem futilidades deliciosas. Este livro me inspirou este post.
Cartão-câncer é um direito que vc acha que tem assim que descobre que está doente. No começo eu só pensava nisso. Infringi leis achando que estava abafando. Sabe quando tem uma fila enorme de carros e vem um engraçadinho, fura a fila e atrapalha todo mundo? Era eu. Pensava: tô com câncer, posso. Fila grande no hortifrutti?(o hortifrutti tá virando uma obcessão nesse blog) Ficava na fila de idosos e deficientes."Tô com câncer, posso".Chegar atrasada? Posso.Dar patadas nos familiares? Poooossso! Depois passei a usar meu cartão para coisinhas(isso eu continuo fazendo) tipo : "Huuum , pega uma água de coco pra mim na cozinha?" "Paga essa conta no banco? Tô cansadinha!", "Ah...não posso ir na reunião-cilada, quimioterapia dá sono..."
Portanto,não me cobrem postar todo dia... preciso descansar...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

os comentários

Vcs não imaginam como estou feliz e emocionada com os comentários! Eu queria muito que pessoas doentes lessem o blog! Não esperava que tantos "não-doentes" lessem! Só tem um probleminha: não sei sei responder! Sou jurássica na internet. Tentarei aprender o mais rápido possível para responder pelo menos alguns, são tantos! Muuuuito obrigada!

terça-feira, 25 de maio de 2010

banana amassada

Acho que estou criando uma imagem que não é real. Digo isso especialmente às pessoas que também estão doentes. Como faço piadas e tudo mais, parece que eu sou super forte, "guerreira", "mulher incrível". Tem gente achando que eu sou um misto de Mulher Maravilha, Madre Teresa de Calcutá e sei lá... Ronald Golias. Saibam, não é assim. Lembro de um livro que li de uma pessoa com câncer que pega um táxi e vai para o hospital para fazer uma cirurgia sozinha! Quando li fiquei mal, me perguntando se para ficar boa teria que ser tão determinada, jamais seria capaz de fazer isso. Eu definitivamente não sou corajosa. Queridos companheiros de doença, eu choro muito, eu tenho muito medo, eu tenho pensamentos horríveis, eu tenho pena de mim quando estou sozinha com aquele robe ridículo naquelas salas geladas de exame. Mas eu descobri que não tenho que me sentir culpada por ter medo de perder as sobrancelhas porque "isso é o de menos", que eu não tenho que andar de cabeça baixa na rua com medo de encontrar alguém conhecido(não faço mais) que me olhe com cara de bunda, não tenho que me cobrar eterno "pensamento positivo".
A única coisa que eu tenho certeza é que eu tenho que encerrar esse post porque acabaram as frutas aqui em casa e eu vou ao hortifrutti porque tô com vontade de comer banana amassada.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Permuta

Só uma coisinha que eu esqueci de contar : pouco depois de ter raspado a cabeça, cheguei no camarim da minha peça (tango, bolero e cha cha cha) e tinha um presente de um dos apoiadores( uma empresa de cosméticos) da peça. Um pacote com os seguintes produtos: 1 laquê para penteados presos, 1 laquê para cabelos soltos, 1 leave-in para cabelos opacos e um creme hidratante com queratina. Não é piadinha, é verdade, tenho testemunhas. Sabe o que eu fiz? Fiquei olhando sem acreditar e ... ri! Tá vendo como a gente supera?

a bela adormecida

Paula, isso é só para vc quando acordar saber que estamos todos pensando e torcendo muito por vc.

praticamente uma celebridade na internet!

Tô adorando esse negócio de blog. Quanta gente me liga e me manda mensagens pra dizer coisas bacanas! Tenho até seguidores! Logo eu que só sei mandar e-mails! Tá me fazendo um bem enorme. Não fico mais o tempo todo pensando na minha cirurgia, no meu medo. Tenho que "postar". hahahaha!
Bem, esse é o problema. Já estão me pedindo para postar todo dia. Não garanto, acho que tenho que escrever coisas pertinentes e isso é um pouco difícil. Se o Xexéo e o Veríssimo dizem que ficam sem assunto, imagine eu!
Bem , resolvi dar uma olhada em blogs de colegas e descobri que existem alguns que são mais ou menos assim : "Hoje fiz fotos com Testino, bárbaro!!!! Um prazer!! Mário, hot!", " O show ontem foi incrível, lotado, não deu para atender todo mundo no fim, uma loucura, mas meu thanks, axé para vcs!! Semana que vem Aracajú, aí vou eu!!", " Amanhã começo a gravação da nova novela, o personagem é um presente de Gilberto prá mim! Gil, thanks, love forever!"
Só que eu tô glamour zero.
Não dá para postar : Fiz um raio X com Dr Francisco, bárbaro! Faz um frio na sala, cold!". "Ontem fui ao hortitifrutti, não deu pra comprar tudo, a uva tompson tá pela hora da morte!", "Amanhã vou no Dr. Eduardo, certamente o presente que ele tem pra mim é um exame de sangue... Du, love forever!".
Peraí, vamos aguardar idéias.

sábado, 22 de maio de 2010

Revista Amiga

Nunca em meus 26 anos de carreira fui capa da revista Contigo (até aí tudo bem). No momento mais triste e difícil da minha vida eles resolveram me prestar essa singela homenagem. Sem entrevista, sem minha permissão.Tomara que tenha encalhado.

As amigas

Quando uma amiga querida tem um diagnóstico de câncer as amigas correm para o médico. Umas tem certeza que também estão doentes, outras acham que não custa dar uma olhadinha. Sei que as minhas foram, algumas confessam, outras vão escondido. Mas nessa minha condição, tenho observado o comportamento delas. Existem vários tipos:
A desencanada – essa tem certeza que você vai ficar boa, não se impressiona com catéter, olha a careca na boa, fala de si. Muito útil para acompanhar em exames importantes, vai dar tudo certo mesmo.
A intensa – esta reza muito, faz tudo que está ao seu alcance, deve sofrer em casa, mas está sempre disposta a ajudar. Demonstra sempre seu amor e apesar de nervosa é muito útil para serviços gerais..
A tensa – essa é uma paixão, também sempre muito disposta a fazer... o que não pode. Exames importantes, lexotan embaixo da língua (dela). Também está sempre demonstrando seu amor. Muito útil para saber que alguém está sempre pensando em você.
A tensa que finge que não é tensa – Essa é pura alegria. Quer te levar para se divertir, fala pelos cotovelos, traz presentinhos, uma delícia. Longe, deve chorar horrores. Muito útil para fofocar e esquecer que está com câncer.
A que desaparece – essa não segura a onda. Por algum motivo forte que nem ela mesmo sabe,não dá atenção. Muito útil para quando tudo isso passar! Continuo amando.
Tem também aquelas que não estavam tão próximas e que agora tem as melhores intenções comigo. Amo.

Afta

Quem faz quimio pode ter muitas aftas. Eu tenho só uma, mas tá ardendo tanto que não consigo nem andar...

Orações

Existe uma certa implicância com os evangélicos. Implicância legítima pelo que lemos nos jornais sobre alguns pastores. Mas pessoas me param na rua para me dizer que estão orando (aliás, porque católico reza e evangélico ora?) por mim. E é sincero. E eu gosto. Obrigada.

Se vc é amigo de alguém que tenha câncer

Nunca, mas nunca mesmo diga: - Vc TEM que tomar uma erva maravilhosa que só cresce na Namíbia. Não é comprovada cientificamente, mas é milagrosa!!! Minha tia que morreu, tomou.- Primeiro, não TEM que nada, só se o médico deixar. E a gente não quer receita da tia que morreu!
Nada de abraços nem olhares tipo pé-na-cova. É péssimo. Só carinho sincero. Se não conseguir fique na sua, é melhor.
Se vc for marido, ex-marido, namorado, ex-namorado, amante, ex-amante ou simplesmente um macho por perto, elogie. Diga que ela está bonita de lenço, que a carequinha é bonitinha, que a magreza é legal (bem, se ela estiver gordinha, acho melhor ficar calado). É muito bom ouvir, só não exagere, a gente desconfia. Elogios de amigos gays ou de amigas são bons, mas não surtem o mesmo efeito.
Não se ofenda se a gente não retornar a ligação, nem tenha ciúme de outra amiga!
Visita, só com hora marcada.
Ofereça-se para: fazer compras, ir ao banco, levar o cachorro para passear, passear com o filho, lavar a louça. Tem dia que a gente não consegue fazer nada disso.
Agora o mais importante: Jamais insinue coisas do tipo “ vc deixou a doença entrar”, “ o que vc fez para ficar doente”, “câncer é cabeça ruim”. EU Não FIZ NADA! Além de todo sofrimento, tem gente que acha que a culpa é nossa! Ainda tenho que me sentir culpada? A ciência ainda não sabe o porquê de algumas pessoas ficarem doentes e outras não. Carinho de novo.

Lenços, perucas – o mundo maravilhoso das sem-cabelo

Se vc amiga está passando por isso, pense antes de comprar a peruca. Em mim, cooooooça muito! Fiz uma que custou uma fortuna e eu prefiro os lenços. O problema é comprá-los. Logo na primeira loja a moça me perguntou :
- É para uma ocasião especial?
- Especialíssima, quimioterapia para câncer de ovário, fofa!
Mentira, não disse isso, mas traumatizei. Thereza e Claudia foram em uma loja, deram um cheque caução e trouxeram vários pra eu escolher. Depois vi que o melhor é ir em loja que tem provador, não dá pra botar o carecão de fora na Accessorize. Tem que experimentar, tem uns lindos, mas cuidado, na cabeça parece que vc está pronta para dançar o Vira.

Os cabelos

Meu médico me disse que meus cabelos cairiam mesmo. Parece que é o de menos, mas na hora... Li que tem gente que primeiro pergunta se o cabelo vai cair e depois se vai morrer! Se vc está passando por isso me ouça: é de lascar, mas a gente su-pe-ra! Mesmo! Comigo foi assim:
Resolvi cortar curtinho, tipo o gato subiu no telhado para minha filha ir se acostumando. Por muito tempo usei os cabelos compridos e estava usando chanel. O cabelereiro não teve dó e cortou beeeeem curtinho. Quando me vi no espelho,magrela, branca e de cabelo curto pensei – meu Deus, tô parecendo uma figurante da Lista de Schinndler! Mas no dia seguinte encontrei com Neco na rua que me disse que eu estava parecendo uma atriz de cinema francês! Sim! Magra, alta, branca de cabelo curtinho! Acreditei , fiquei feliz e descobri que gosto mais doTruffaut do que do Spielberg.
Bem ... mas aí tem que raspar, né? Ricardo foi comigo, eu sentei de costas para o espelho e ele ficou falando que minha careca era bonitinha , foi bom, mas eu chorei, chorei, chorei e ... superei !
Bem, agora a resposta da pergunta que todo mundo quer saber: Sim, nós ficamos bem parecidas com as estrelas de filme pornô.

A segunda opinião e o cheque em branco

Já estava gostando do meu médico, quando uma amiga me diz que tenho que ouvir uma segunda opinião. Lógico! Como não pensei nisso! Já que temos que ir, vamos no maior especialista, no mais famoso .São Paulo, claro. Fui até lá para ouvir mais ou menos tudo igual ao que meu médico já havia me dito, ainda bem.
Meus pais são imigrantes portugueses. Meu pai bancário e minha mãe dona de casa e costureira. A vida bem difícil, mas eu minha irmã sempre estudamos em bons colégios, estudei inglês (estudei, mas não aprendi, burra), fiz balé (idem) ela fazia lindos vestidos para minhas amigas do colégio e eu tinha orgulho disso. Nunca vi minha mãe comprando um vestido para ela, ela ia à pé a vários supermercados porque o feijão era mais barato num e o arroz em outro. Tudo isso para contar que ela me deu um cheque em branco para o médico de São Paulo. Um cheque para curar a filha caçula.

Contar para quem mais te ama

- Filha, mamãe está doente. Vou fazer um tratamento que vai demorar e faz cair o cabelo.
- Mas vc vai sair careca na rua?
- Não, vou usar peruca ou um lenço
- Ah, bom. Mas é muito sério?
- Bem..., muito, não, mas é sério.
Não sabia como contar para uma menininha de 9 anos . Foi assim que eu contei. Mas depois fiquei pensando que não disse a palavra câncer. Essa palavra cheia de estigma e o que eu estava fazendo em omiti-la era só aumentar esse fantasma horrível e assustador do que não é falado.
No dia seguinte...
- Filha, sabe qual é nome da doença da mamãe?
- Não
- Câncer, tipo o signo do papai.
- Ah ... tá.
Manuela não fala muito sobre seus medos e problemas. Não tocou mais no assunto, até que um dia me disse:
- Mãe, posso ir com um lenço igual ao seu para escola?
- Por que?
- Porque é muito legal.
Foi o jeito que ela arranjou de me dizer como está ao meu lado nessa. Chorei só um pouco, HOOOOORAS sem parar. Linda.

Ninguém tinha coragem de contar pra minha mãe. Ela tem 83 anos, é apavorada e não fala a palavra câncer. Só que todos sabiam, menos ela e meu pai de 90 anos. Como pela idade ele está senil, não nos preocupou tanto. Não agüentava mais e contei assim que ela chegou para me visitar. O ser humano nos surpreende. Ela foi uma fortaleza, não se deixou abater, tem total convicção da minha cura e é claro não sai do meu lado. Haja sopinha. Já papai doidão começou a chorar como nenhuma de nós havíamos visto na vida...

Todo mundo fica maluco

Quando uma pessoa próxima e querida tem um diagnóstico de câncer, as pessoas não se dão conta do quão malucas ficam.
Ricardo, meu ex-marido e pai de minha filha que me dá todo apoio a quem serei eternamente agradecida, pirou. Ainda no hospital, quando ele soube que havia tratamento e chances de cura, começou a agir como se eu estivesse com uma jujuba na barriga. Eu o ouvia no telefone dizendo a todos: Tudo excelente, estou muito contente e tranquilo – Não conseguia ficar parado e fumava escondido na janela. Contente e tranquilo? Que zen... Mas o melhor foi quando a minha segunda sessão de quimioterapia foi adiada por causa daquela chuva horrível no Rio, liguei para dr. Eduardo ele disse que não havia problema, faríamos no dia seguinte. Só que como faço em uma clínica de quimioterapia em Copacabana e não parava de chover, ele no auge da maluquice me disse:
- Já sei, vamos para clínica da Barra! Sim! ... vamos de madrugada, não tem trânsito, podemos nos hospedar num hotel ou na casa de alguém! (detalhe: não conhecemos ninguém que mora na Barra) Podemos sair às 4 horas da manhã!
Gente, será que ele não se tocou que se nós não conseguíamos chegar, os médicos e enfermeiros também não?

O diagnóstico

Estava no ensaio aberto da minha peça quando comecei a sentir uma coliquinha – disse pra Clarinha: preciso soltar um pum (não foi isso que falei, mas tentarei manter uma certa dignidade nos textos), . Luftal, nada. Tô muito magra, estranho, vou ao médico amanhã. Cisto grande, ultra transvaginal, cisto grande mesmo, tem que operar, hoje. Hoje? Eu só operei o nariz! Anestesia geral? É. Que medo! Hospital, minha irmã vem, Vera , produção da peça, não posso estrear! Operação, acordo, tudo bem? Não! É câncer, tem que esperar o resultado patológico mas... Resultado chega, é câncer de ovário, tem que fazer quimioterapia, tem que tirar útero e ovários, talvez outros pedacinhos! Meu Deus, e agora?
E agora que sou eu mesma que tenho de enfrentar. E tenho que ficar boa.

Força na peruca

Nunca pensei em escrever um blog. Nunca mesmo. Não sei escrever, juro, a última coisa que escrevi foi uma carta à mão! Nunca pensei em ter câncer, quer dizer, tinha medo, acho que todo mundo tem um pouco, mas é uma coisa que acontece com os outros! Agora eu sou do grupo dos outros. Parece que vivo numa realidade paralela. Apesar de todo apoio de minha família, meus amigos e médicos, sinto-me extremamente só. Talvez por isso essa vontade de compartilhar com alguém – o computador.