segunda-feira, 23 de maio de 2011

revista o globo

Escrevi essa crônica para revista do Globo há tempos, mas até hoje me param na rua para comentá-la. como ando sumida por aqui resolvi reproduzi-la. Bjs

Eu fiquei gravemente doente. Ao contrário do que muitos fantasiam, não tirei de letra. Não sei o porquê, mas existe uma idéia estapafúrdia de que quem está com câncer tem que, pelo menos parecer herói. Nãnanina não! Quem recebe uma notícia dessas não consegue ter pensamentos belos. Bem... eu não conseguia. A cobrança de positividade acabou se tornando um problema. Me olhava no espelho branca, magrela e de cabelos curtinhos (antes de caírem) e me achava pronta para fazer figuração na Lista de Shindler. Achava que não tinha chance de sobreviver à cirurgia, só pessoas que não tinham maus pensamentos sobreviviam. Muitas vezes deixei de comprar coisas para mim porque tinha que deixar tudo para minha filha. Bem, se na minha cabeça era esse o pensamento que reinava ... Sem chance.
O mundo moderno é incrível. Tudo é maravilhoso, não existe sofrimento! As separações são sempre amigáveis e sem lágrimas, as mães não tem mais o direito de embarangar e ficar em casa lambendo a cria. Um mês depois estão lindas, magras, com barriga sarada! Os atores não ficam desempregados, estão sempre felizes com um convite que ainda não pode ser revelado! Quimioterapia é moleza! Vem cá, só eu que não moro na Disney?
Hoje percebo que precisei viver esse luto. Ele passou, apesar do medo fui confiante para o hospital. Mas outras angústias vieram. Sofri pelo que é “o de menos”, chorei pelos cabelos, pelas sobrancelhas, pelos cílios e pelo ... resto que vocês sabem. Chorei pelas dores , enjôos, injeções e tudo mais. Eu me dei esse direito. Eu me dei o direito de ser humana. A Mulher Maravilha mora na televisão, eu moro na Gávea mesmo. A Mulher Maravilha dá aquela giro e sai linda e poderosa correndo para salvar pessoas. Se eu fizesse a mesma coisa cairia estabacada com a careca no chão. Então meu giro foi bem devagarzinho segurando na mão de minha mãe, de minha irmã e de meus queridos amigos e familiares. Girei amparada por dr Eduardo Bandeira, por Virginia Portas, dr Celso Portela e todos enfermeiros e profissionais de medicina que foram simplesmente maravilhosos comigo. Girei rindo e chorando com centenas de comentários no meu blog onde eu virei praticamente uma conselheira oncológica. Girei brincando com minha filha que fez questão de ir para escola de lenço na cabeça “igual a mamãe porque é muito legal”. Girei para salvar a mim mesma.
Sinceramente, não acredito em uma seleção divina. Muitas pessoas bacanas e crianças morrem e isso não é nem um pouquinho justo. Acho um saco quando dizem “ Fulano perdeu a batalha contra o câncer” , “Fulana tem tanta vontade e alegria de viver que foi salva”ou “ O amor por meus filhos me salvou”. Me parece tremendamente injusto. Quer dizer que quem morre não amava a vida? O amor pelos filhos não era grande o suficiente? A fé foi pouca? Pensamento bem cruel, não é mesmo? E é uma coisa bem esquisita, isso só acontece com o câncer, a única doença tão estigmatizada. Ninguém diz que alguém perdeu a batalha para o enfarte, nem que amava tanto a vida que ficou bom da tuberculose.
Re-mis-são. Estou em remissão. Quem não apresenta mais sinais da doença pelo corpo não pode sair correndo gritando que está curada, então saio correndo e gritando que estou em remissão!!! Eba! Remissão é muito bom!!
Vi uma foto minha na internet com meus companheiros de Subversões Aloísio e Salem em que estou com um largo sorriso. Eu estava verdadeiramente feliz. Sem a pílula da felicidade, sem fingir meus sentimentos, sem bancar a maravilhosa. Era eu simplesmente feliz.
E agora ... chega desse assunto! Eu sou atriz e tô mais preocupada com o um convite que não pode ser revelado.

domingo, 3 de abril de 2011

Como não encher o saco de alguém que está com câncer

Acho que de uma vez por todas merecemos não ouvir mais:
- "Aquela doença"
- "A cura está na cabeça"
- "Vc deixou a doença entrar"
- "Câncer é tristeza"
- "Câncer é carma"
- "Somente o amor aos filhos, a alegria de viver, a fé e o pensamento positivo podem salvar"
- "Fulano perdeu a batalha contra o câncer"
- "Conheço alguém que se curou de câncer em estado terminal só tomando essa erva milagrosa"
- "Todos os efeitos colaterais são "o de menos"

O que merecemos ouvir:
- "Posso te ajudar?"
- "Rezo por vc e sei que vai ficar boa"
- "A medicina evolui a cada dia."
- "Isso vai passar"
- "Ficar careca é ruim sim, comprei um lenço lindo pra vc, quer esperimentar?"
- "Só liguei para vc saber que estou pensando em vc"
- "Eu te amo"
Se vc for muito rico:
- "Posso pagar a cirurgia'
Se vc for médio rico:
- "Posso pagar próxima consulta"
Se vc for pobre:
- "Trouxe esse pirulito"

terça-feira, 15 de março de 2011

disney

Hoje faz um ano que eu recebi a notícia que estava com câncer. Faz um ano que eu levei uma marretada na cabeça, fui atropelada por um caminhão, levei uma facada no peito, tudo ao mesmo tempo.
Como prometido a mim mesma, fui brincar na Disney com minha filha. Foi incrível, é tudo pensado pra qualquer adulto se sentir a mais feliz das crianças. E assim foi. Senti como se estivesse me vingando de todo sofrimento. Ha ha ha! Muito bom.
Andei em TODAS as montanhas-russas! As mais radicais! Oito luppings? Pra quem fez quimioterapia intraperitoniana, a montanha do Hulk é fichinha. Então é assim. Há um ano eu não tenho mais medo de montanha-russa.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Verruga

Já comentei aqui que muitos me perguntam o que mudou depois da doença esperando uma resposta sensível como "vejo a vida com outros olhos" mas eu fico meio sem saber o que responder. Mas eu estava pensando que eu não tenho mais a MENOR pena de alguma amiga que me liga e diz que está com quarenta graus de febre e com uma virose horrível. Nem com infecção intestinal, nem que quebrou o braço, nem herpes. Eu no fundo acho uma baita sorte.

Meu médico mandou eu dar um tempo. Eu mal me recuperei de um tratamento cascudo que me deixou... huummm... avariada, digamos assim e estreei uma peça fazendo outra, fora todas obrigações de mãe e dona de casa. Resultado: estava estafada. Tirei dois dias de férias numa praia. No caminho já comecei a sentir tonteiras. Fingi que não era comigo. Piorou. Já fiquei assustada. Acho que é assim, quem teve câncer confunde verruga com tumor. Quando vi que não iria dormir, liguei para o meu médico. Labirintite. Eu estava com labirintite! Que bom! Como fiquei feliz!

Então é assim, agora eu fico feliz porque tenho labirintite! Eu mudei.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

revista o globo de domingo

Fui convidada para escrever na revista do jornal O Globo como colunista convidada. Sai neste domingo. Espero que gostem. E agora chega. Não quero mais falar com a imprensa sobre isso. Tá bom, né? já dei 500 entrevistas! Obrigada a todos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Me Abana!

Fiz uma cirurgia que fez com que eu entrasse na menopausa precocemente (muuuuuito precocemente). Como sou chegada a um dramalhão, ficava pensando "Oh... Ficarei vazia por dentro", "O ventre em que minha filha foi gerada não mais existirá..." "Não aguentarei os horrores da menopausa". Se você está passando por isso, saiba que comigo nada disso aconteceu. Fiquei oca e não tô nem aí. Continuo a mesmíssima!
Bem, tem uma coisinha: os calores! O verão do Rio somado ao calor da menopausa induzida é de enlouquecer! Sério, parece que eu tô naquela praça do centro de Teresina de casaco de pele e gorro de lã. Socoooooro! Vou dormir no Bradesco!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

dia de são sebastião

Depois de amanhã é meu aniversário. 48 anos. Sim, eu sou uma senhora. Eu sou uma senhora que teve a mais temida das doenças. Câncer. Eu tive esse negócio. Mas eu não sou só isso. Eu sou uma porção de outras coisas. Eu quero me dar os parabéns. Uma mulher de 48 anos não é só uma mulher de 48 anos.
Sinto dentro de mim todas idades que já tive. Aquela menininha de 7 anos que se decepcionou porque Papai Noel não existe está igualzinha aqui dentro se decepcionando com pessoas que não são o que pareciam. Aquela garota de 14 anos com medo do primeiro beijo vive aparecendo. Por diversas vezes sinto-me com 16 anos anos feliz com algo de bom que me aconteceu. A jovem atriz de 20 vestida de abelha com pânico de esquecer as falas me acompanha intacta em todas estreias. A de 30 insatisfeita com as pernas finas também pulsa dentro de mim.
Eu quero me dar parabéns. Não pela cura da doença, isso eu credito aos médicos, não à mim nem mesmo a Deus, não acredito que exista uma seleção divina. Muitas pessoas muito melhores e especialmente crianças morrem e isso não é nem um pouco justo.
Mas acho que neste meu aniversário eu mereço meus parabéns. EU! Apesar do sofrimento e solidariedade de meus amigos e parentes, especialmente a dedicação de minha mãe e irmã, era eu ! Eu! Eu deixei que todas adoráves meninas que me habitam abrissem espaço para que a mulher de 47 anos tivesse coragem de, mesmo sem coragem enfrentasse o que tinha que ser enfrentado. Fui eu quem com um tumor na barriga conseguiu fazer graça no teatro,fui eu quem criou um blog que ajuda milhares de pessoas, fui eu quem conseguiu contar a verdade para uma menina de 9 anos e mesmo assim não pirar a cabeça dela! Ela tirou A em todas matérias da escola! E eu reconheço meu mérito.
Marcia, parabéns pra você, muitos anos de vida!
Quero dar parabéns para mim. Eu mereço.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

a emoção da depilação

Parem as rotativas! Notícia importantíssima! Fiz depilação! Eu odiava fazer depilação, e agora... continuo odiando! Não é maravilhoso? Tudo está voltando aos seus lugares. Eu quis xingar a depiladora, ou seja, eu sou eu de novo.
Eu perdi todos cabelos, até os pelinhos de dentro do nariz caíram, sobrancelha, cílios, tudo, fiquei lisa como um ovo, às vezes me sentia uma rã. Não,não foi divertido. Adorei odiar depilar.
Isso não quer dizer nada, mas é tudo.
Imagina quando eu fizer uma escova. Vou chamar o Tv Fama.