domingo, 30 de maio de 2010

recreio

Ficarei por um tempo impossibilitada de postar.Assim que puder estarei de volta. Beijos!

uma gota de vaidade em um mar de problemas

Não leio laudos de exames, mando direto para o meu médico e ele me conta. Acho que minha fantasia aliada à minha ignorância podem ser pior do que a realidade. Antes não lia nem quando já sabia o resultado, agora já dou uma olhadinha. Numa dessas olhadinhas, descobri uma ficha do médico de São Paulo. Tinha lá todo o diagnóstico, difícil de ler e meus dados, entre eles um que me chamou atenção: abdomem: flácido. Como é que é? Eu me acabo na aula de abdominal, para ouvir isso de um médico renomado? Paulista abusado!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bunda

Quando eu penso que eu queria que a ciência descobrisse a cura da... celulite!

cartão-câncer

Logo no primeiro mês que soube que estava doente ganhei da ângela, um livro que recomendo a todos que estão doentes - "Câncer e agora?" de Kris Carr (ed. Globo). O nome é meio cafona mas livro é ótimo. Detesto livros sobre câncer, tem muito nome difícil, muita pesquisa, tudo tem percentagem, Ihhhh, me dá nos nervos aquilo. Esse não, é o relato de uma atriz americana de 25 anos que tem com um câncer que não tem tratamento. Ela muda seu estilo de vida e consegue estacionar o bicho. Só que ela é super engraçada e tem futilidades deliciosas. Este livro me inspirou este post.
Cartão-câncer é um direito que vc acha que tem assim que descobre que está doente. No começo eu só pensava nisso. Infringi leis achando que estava abafando. Sabe quando tem uma fila enorme de carros e vem um engraçadinho, fura a fila e atrapalha todo mundo? Era eu. Pensava: tô com câncer, posso. Fila grande no hortifrutti?(o hortifrutti tá virando uma obcessão nesse blog) Ficava na fila de idosos e deficientes."Tô com câncer, posso".Chegar atrasada? Posso.Dar patadas nos familiares? Poooossso! Depois passei a usar meu cartão para coisinhas(isso eu continuo fazendo) tipo : "Huuum , pega uma água de coco pra mim na cozinha?" "Paga essa conta no banco? Tô cansadinha!", "Ah...não posso ir na reunião-cilada, quimioterapia dá sono..."
Portanto,não me cobrem postar todo dia... preciso descansar...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

os comentários

Vcs não imaginam como estou feliz e emocionada com os comentários! Eu queria muito que pessoas doentes lessem o blog! Não esperava que tantos "não-doentes" lessem! Só tem um probleminha: não sei sei responder! Sou jurássica na internet. Tentarei aprender o mais rápido possível para responder pelo menos alguns, são tantos! Muuuuito obrigada!

terça-feira, 25 de maio de 2010

banana amassada

Acho que estou criando uma imagem que não é real. Digo isso especialmente às pessoas que também estão doentes. Como faço piadas e tudo mais, parece que eu sou super forte, "guerreira", "mulher incrível". Tem gente achando que eu sou um misto de Mulher Maravilha, Madre Teresa de Calcutá e sei lá... Ronald Golias. Saibam, não é assim. Lembro de um livro que li de uma pessoa com câncer que pega um táxi e vai para o hospital para fazer uma cirurgia sozinha! Quando li fiquei mal, me perguntando se para ficar boa teria que ser tão determinada, jamais seria capaz de fazer isso. Eu definitivamente não sou corajosa. Queridos companheiros de doença, eu choro muito, eu tenho muito medo, eu tenho pensamentos horríveis, eu tenho pena de mim quando estou sozinha com aquele robe ridículo naquelas salas geladas de exame. Mas eu descobri que não tenho que me sentir culpada por ter medo de perder as sobrancelhas porque "isso é o de menos", que eu não tenho que andar de cabeça baixa na rua com medo de encontrar alguém conhecido(não faço mais) que me olhe com cara de bunda, não tenho que me cobrar eterno "pensamento positivo".
A única coisa que eu tenho certeza é que eu tenho que encerrar esse post porque acabaram as frutas aqui em casa e eu vou ao hortifrutti porque tô com vontade de comer banana amassada.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Permuta

Só uma coisinha que eu esqueci de contar : pouco depois de ter raspado a cabeça, cheguei no camarim da minha peça (tango, bolero e cha cha cha) e tinha um presente de um dos apoiadores( uma empresa de cosméticos) da peça. Um pacote com os seguintes produtos: 1 laquê para penteados presos, 1 laquê para cabelos soltos, 1 leave-in para cabelos opacos e um creme hidratante com queratina. Não é piadinha, é verdade, tenho testemunhas. Sabe o que eu fiz? Fiquei olhando sem acreditar e ... ri! Tá vendo como a gente supera?

a bela adormecida

Paula, isso é só para vc quando acordar saber que estamos todos pensando e torcendo muito por vc.

praticamente uma celebridade na internet!

Tô adorando esse negócio de blog. Quanta gente me liga e me manda mensagens pra dizer coisas bacanas! Tenho até seguidores! Logo eu que só sei mandar e-mails! Tá me fazendo um bem enorme. Não fico mais o tempo todo pensando na minha cirurgia, no meu medo. Tenho que "postar". hahahaha!
Bem, esse é o problema. Já estão me pedindo para postar todo dia. Não garanto, acho que tenho que escrever coisas pertinentes e isso é um pouco difícil. Se o Xexéo e o Veríssimo dizem que ficam sem assunto, imagine eu!
Bem , resolvi dar uma olhada em blogs de colegas e descobri que existem alguns que são mais ou menos assim : "Hoje fiz fotos com Testino, bárbaro!!!! Um prazer!! Mário, hot!", " O show ontem foi incrível, lotado, não deu para atender todo mundo no fim, uma loucura, mas meu thanks, axé para vcs!! Semana que vem Aracajú, aí vou eu!!", " Amanhã começo a gravação da nova novela, o personagem é um presente de Gilberto prá mim! Gil, thanks, love forever!"
Só que eu tô glamour zero.
Não dá para postar : Fiz um raio X com Dr Francisco, bárbaro! Faz um frio na sala, cold!". "Ontem fui ao hortitifrutti, não deu pra comprar tudo, a uva tompson tá pela hora da morte!", "Amanhã vou no Dr. Eduardo, certamente o presente que ele tem pra mim é um exame de sangue... Du, love forever!".
Peraí, vamos aguardar idéias.

sábado, 22 de maio de 2010

Revista Amiga

Nunca em meus 26 anos de carreira fui capa da revista Contigo (até aí tudo bem). No momento mais triste e difícil da minha vida eles resolveram me prestar essa singela homenagem. Sem entrevista, sem minha permissão.Tomara que tenha encalhado.

As amigas

Quando uma amiga querida tem um diagnóstico de câncer as amigas correm para o médico. Umas tem certeza que também estão doentes, outras acham que não custa dar uma olhadinha. Sei que as minhas foram, algumas confessam, outras vão escondido. Mas nessa minha condição, tenho observado o comportamento delas. Existem vários tipos:
A desencanada – essa tem certeza que você vai ficar boa, não se impressiona com catéter, olha a careca na boa, fala de si. Muito útil para acompanhar em exames importantes, vai dar tudo certo mesmo.
A intensa – esta reza muito, faz tudo que está ao seu alcance, deve sofrer em casa, mas está sempre disposta a ajudar. Demonstra sempre seu amor e apesar de nervosa é muito útil para serviços gerais..
A tensa – essa é uma paixão, também sempre muito disposta a fazer... o que não pode. Exames importantes, lexotan embaixo da língua (dela). Também está sempre demonstrando seu amor. Muito útil para saber que alguém está sempre pensando em você.
A tensa que finge que não é tensa – Essa é pura alegria. Quer te levar para se divertir, fala pelos cotovelos, traz presentinhos, uma delícia. Longe, deve chorar horrores. Muito útil para fofocar e esquecer que está com câncer.
A que desaparece – essa não segura a onda. Por algum motivo forte que nem ela mesmo sabe,não dá atenção. Muito útil para quando tudo isso passar! Continuo amando.
Tem também aquelas que não estavam tão próximas e que agora tem as melhores intenções comigo. Amo.

Afta

Quem faz quimio pode ter muitas aftas. Eu tenho só uma, mas tá ardendo tanto que não consigo nem andar...

Orações

Existe uma certa implicância com os evangélicos. Implicância legítima pelo que lemos nos jornais sobre alguns pastores. Mas pessoas me param na rua para me dizer que estão orando (aliás, porque católico reza e evangélico ora?) por mim. E é sincero. E eu gosto. Obrigada.

Se vc é amigo de alguém que tenha câncer

Nunca, mas nunca mesmo diga: - Vc TEM que tomar uma erva maravilhosa que só cresce na Namíbia. Não é comprovada cientificamente, mas é milagrosa!!! Minha tia que morreu, tomou.- Primeiro, não TEM que nada, só se o médico deixar. E a gente não quer receita da tia que morreu!
Nada de abraços nem olhares tipo pé-na-cova. É péssimo. Só carinho sincero. Se não conseguir fique na sua, é melhor.
Se vc for marido, ex-marido, namorado, ex-namorado, amante, ex-amante ou simplesmente um macho por perto, elogie. Diga que ela está bonita de lenço, que a carequinha é bonitinha, que a magreza é legal (bem, se ela estiver gordinha, acho melhor ficar calado). É muito bom ouvir, só não exagere, a gente desconfia. Elogios de amigos gays ou de amigas são bons, mas não surtem o mesmo efeito.
Não se ofenda se a gente não retornar a ligação, nem tenha ciúme de outra amiga!
Visita, só com hora marcada.
Ofereça-se para: fazer compras, ir ao banco, levar o cachorro para passear, passear com o filho, lavar a louça. Tem dia que a gente não consegue fazer nada disso.
Agora o mais importante: Jamais insinue coisas do tipo “ vc deixou a doença entrar”, “ o que vc fez para ficar doente”, “câncer é cabeça ruim”. EU Não FIZ NADA! Além de todo sofrimento, tem gente que acha que a culpa é nossa! Ainda tenho que me sentir culpada? A ciência ainda não sabe o porquê de algumas pessoas ficarem doentes e outras não. Carinho de novo.

Lenços, perucas – o mundo maravilhoso das sem-cabelo

Se vc amiga está passando por isso, pense antes de comprar a peruca. Em mim, cooooooça muito! Fiz uma que custou uma fortuna e eu prefiro os lenços. O problema é comprá-los. Logo na primeira loja a moça me perguntou :
- É para uma ocasião especial?
- Especialíssima, quimioterapia para câncer de ovário, fofa!
Mentira, não disse isso, mas traumatizei. Thereza e Claudia foram em uma loja, deram um cheque caução e trouxeram vários pra eu escolher. Depois vi que o melhor é ir em loja que tem provador, não dá pra botar o carecão de fora na Accessorize. Tem que experimentar, tem uns lindos, mas cuidado, na cabeça parece que vc está pronta para dançar o Vira.

Os cabelos

Meu médico me disse que meus cabelos cairiam mesmo. Parece que é o de menos, mas na hora... Li que tem gente que primeiro pergunta se o cabelo vai cair e depois se vai morrer! Se vc está passando por isso me ouça: é de lascar, mas a gente su-pe-ra! Mesmo! Comigo foi assim:
Resolvi cortar curtinho, tipo o gato subiu no telhado para minha filha ir se acostumando. Por muito tempo usei os cabelos compridos e estava usando chanel. O cabelereiro não teve dó e cortou beeeeem curtinho. Quando me vi no espelho,magrela, branca e de cabelo curto pensei – meu Deus, tô parecendo uma figurante da Lista de Schinndler! Mas no dia seguinte encontrei com Neco na rua que me disse que eu estava parecendo uma atriz de cinema francês! Sim! Magra, alta, branca de cabelo curtinho! Acreditei , fiquei feliz e descobri que gosto mais doTruffaut do que do Spielberg.
Bem ... mas aí tem que raspar, né? Ricardo foi comigo, eu sentei de costas para o espelho e ele ficou falando que minha careca era bonitinha , foi bom, mas eu chorei, chorei, chorei e ... superei !
Bem, agora a resposta da pergunta que todo mundo quer saber: Sim, nós ficamos bem parecidas com as estrelas de filme pornô.

A segunda opinião e o cheque em branco

Já estava gostando do meu médico, quando uma amiga me diz que tenho que ouvir uma segunda opinião. Lógico! Como não pensei nisso! Já que temos que ir, vamos no maior especialista, no mais famoso .São Paulo, claro. Fui até lá para ouvir mais ou menos tudo igual ao que meu médico já havia me dito, ainda bem.
Meus pais são imigrantes portugueses. Meu pai bancário e minha mãe dona de casa e costureira. A vida bem difícil, mas eu minha irmã sempre estudamos em bons colégios, estudei inglês (estudei, mas não aprendi, burra), fiz balé (idem) ela fazia lindos vestidos para minhas amigas do colégio e eu tinha orgulho disso. Nunca vi minha mãe comprando um vestido para ela, ela ia à pé a vários supermercados porque o feijão era mais barato num e o arroz em outro. Tudo isso para contar que ela me deu um cheque em branco para o médico de São Paulo. Um cheque para curar a filha caçula.

Contar para quem mais te ama

- Filha, mamãe está doente. Vou fazer um tratamento que vai demorar e faz cair o cabelo.
- Mas vc vai sair careca na rua?
- Não, vou usar peruca ou um lenço
- Ah, bom. Mas é muito sério?
- Bem..., muito, não, mas é sério.
Não sabia como contar para uma menininha de 9 anos . Foi assim que eu contei. Mas depois fiquei pensando que não disse a palavra câncer. Essa palavra cheia de estigma e o que eu estava fazendo em omiti-la era só aumentar esse fantasma horrível e assustador do que não é falado.
No dia seguinte...
- Filha, sabe qual é nome da doença da mamãe?
- Não
- Câncer, tipo o signo do papai.
- Ah ... tá.
Manuela não fala muito sobre seus medos e problemas. Não tocou mais no assunto, até que um dia me disse:
- Mãe, posso ir com um lenço igual ao seu para escola?
- Por que?
- Porque é muito legal.
Foi o jeito que ela arranjou de me dizer como está ao meu lado nessa. Chorei só um pouco, HOOOOORAS sem parar. Linda.

Ninguém tinha coragem de contar pra minha mãe. Ela tem 83 anos, é apavorada e não fala a palavra câncer. Só que todos sabiam, menos ela e meu pai de 90 anos. Como pela idade ele está senil, não nos preocupou tanto. Não agüentava mais e contei assim que ela chegou para me visitar. O ser humano nos surpreende. Ela foi uma fortaleza, não se deixou abater, tem total convicção da minha cura e é claro não sai do meu lado. Haja sopinha. Já papai doidão começou a chorar como nenhuma de nós havíamos visto na vida...

Todo mundo fica maluco

Quando uma pessoa próxima e querida tem um diagnóstico de câncer, as pessoas não se dão conta do quão malucas ficam.
Ricardo, meu ex-marido e pai de minha filha que me dá todo apoio a quem serei eternamente agradecida, pirou. Ainda no hospital, quando ele soube que havia tratamento e chances de cura, começou a agir como se eu estivesse com uma jujuba na barriga. Eu o ouvia no telefone dizendo a todos: Tudo excelente, estou muito contente e tranquilo – Não conseguia ficar parado e fumava escondido na janela. Contente e tranquilo? Que zen... Mas o melhor foi quando a minha segunda sessão de quimioterapia foi adiada por causa daquela chuva horrível no Rio, liguei para dr. Eduardo ele disse que não havia problema, faríamos no dia seguinte. Só que como faço em uma clínica de quimioterapia em Copacabana e não parava de chover, ele no auge da maluquice me disse:
- Já sei, vamos para clínica da Barra! Sim! ... vamos de madrugada, não tem trânsito, podemos nos hospedar num hotel ou na casa de alguém! (detalhe: não conhecemos ninguém que mora na Barra) Podemos sair às 4 horas da manhã!
Gente, será que ele não se tocou que se nós não conseguíamos chegar, os médicos e enfermeiros também não?

O diagnóstico

Estava no ensaio aberto da minha peça quando comecei a sentir uma coliquinha – disse pra Clarinha: preciso soltar um pum (não foi isso que falei, mas tentarei manter uma certa dignidade nos textos), . Luftal, nada. Tô muito magra, estranho, vou ao médico amanhã. Cisto grande, ultra transvaginal, cisto grande mesmo, tem que operar, hoje. Hoje? Eu só operei o nariz! Anestesia geral? É. Que medo! Hospital, minha irmã vem, Vera , produção da peça, não posso estrear! Operação, acordo, tudo bem? Não! É câncer, tem que esperar o resultado patológico mas... Resultado chega, é câncer de ovário, tem que fazer quimioterapia, tem que tirar útero e ovários, talvez outros pedacinhos! Meu Deus, e agora?
E agora que sou eu mesma que tenho de enfrentar. E tenho que ficar boa.

Força na peruca

Nunca pensei em escrever um blog. Nunca mesmo. Não sei escrever, juro, a última coisa que escrevi foi uma carta à mão! Nunca pensei em ter câncer, quer dizer, tinha medo, acho que todo mundo tem um pouco, mas é uma coisa que acontece com os outros! Agora eu sou do grupo dos outros. Parece que vivo numa realidade paralela. Apesar de todo apoio de minha família, meus amigos e médicos, sinto-me extremamente só. Talvez por isso essa vontade de compartilhar com alguém – o computador.